Admirável Mundo Novo - Aldos Huxley


O melhor livro de ficção científica!

Se existe um livro de ficção-científica que a cada dia que passa se aproxima mais da realidade é Admirável Mundo Novo. Trocando em miúdos, é possível observar algumas coisas que já são realidade nos tempos de hoje. A engenharia genética e suas possibilidades e a necessidade de fabricar cidadãos cada vez mais complacentes com toda essa situação são fatos, que, de alguma forma já estão acontecendo, claro que o condicionamento da mente, que no livro é um processo diferente, aqui é feito pela televisão, o maior aliado, desde sua invenção, de governos e ditaduras. Me arrisco, aqui, a dizer que vivemos uma mistura de "Admirável Mundo Novo" com "1984" de George Orwell (que logo falarei aqui no blog). Quem já leu os dois livros, com certeza está fazendo associação imediata. "Admirável Mundo Novo" é uma frase da peça "A tempestade", publicada por Shakespeare em 1611, foi elaborada numa época em que os europeus se lançavam a mares cheios de seres monstruosos que habitavam o imaginário. A ação é situada no Novo Mundo, para onde o rei Próspero vai com seu séqüito, após ser destronado. Os conflitos entre a nova cultura e a autóctone dominam o enredo. O tema da peça é a busca da liberdade e, por causa da época em que foi escrita, mostra o vislumbre que Shakespeare teve: “Como é belo o gênero humano!/Ó Admirável Mundo Novo/Que possui gente assim!”. Voltando ao livro, a idéia de culturas diferentes é sustentada com o personagem do "selvagem", detalhe: o modo de vida dos selvagens é o nosso atual. O quase perfeito domínio exercido pelo governo era, assim, realizado não pelo castigo ou força bruta, mas pelo reforço sistemático de um comportamento desejável, obtido por numerosas formas de manipulação que prometiam recompensas -"Tivemos que escolher", esclarece o Dirigente, "entre a felicidade e aquilo que antigamente se chamava arte. Sacrificamos a Grande Arte. Agora, nosso mundo não é o mesmo de Otelo... O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não tem medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não tem esposas, filhos, nem amantes a quem se apeguem com emoções violentas. Toma-se o maior cuidado para impedir as pessoas de amarem demasiado a quem quer que seja.

A maioria dos livros pós anos 50 vem com prefácil do próprio autor sobre o livro, o que para mim, isso é uma verdadeira jóia, pois o autor faz algumas revelações pessoais sobre a história surpreendentes. Ao rever suas idéias Huxley declara: "As profecias feitas em 1931 estão a se realizar muito mais depressa do que eu pensava." "É claro", acrescenta, "durante muito tempo continuaremos a ser uma espécie vivípara que se reproduz ao acaso, mas a repressão pelos métodos eficazes de recompensa e de manipulação científica, ganhará uma extensão cada vez maior" - e isso já é realidade.

Tais afirmações, foram feitas antes que a pílula anti-concepcional estivesse completada. O que diria ele, hoje, diante da clonagem, da fertilização "in vitro" cada vez mais freqüente, do Prozac, do Viagra, da exacerbação do erotismo, da desagregação da família, da estimulação ao consumo e ao descartável, das técnicas de propaganda e doutrinação de uma mídia cada vez mais intrusiva?
Pensar na humanidade é sempre algo complexo. Os homens e, por conseqüência, suas obras, vislumbrando, deslumbrando, das mais diferentes maneiras, nos diversos lugares, em todos os tempos, promoveram e promovem tentativas que conduzem a reflexões sobre a condição humana neste mundo.


“Ó, maravilha!
Que adoráveis criaturas aqui estão!
Como é belo o gênero humano!
Ó Admirável Mundo Novo
Que possui gente assim!”
(William Shakespeare, A Tempestade, Ato V)




Eduardo Ávila